Um tsunami em Senador Canedo


Eventos extremos patrocinados pela natureza costumam deixar um rastro de destruição e mortes nos locais atingidos. Por conta disso tsunamis, terremotos e furacões rapidamente galgam as manchetes dos veículos de comunicação em todo o planeta, onde o horror ganha fôlego redobrado graças a imagens impactantes e textos que descrevem à minúcia as dimensões das tragédias. Tal como a natureza, também os homens conseguem construir seus desastres, e as consequências muitas vezes ficam circunscritas ao epicentro da crise. Ninguém do outro lado do Atlântico, por exemplo, ficará sabendo do trem desgovernado em que entrou a população de Senador Canedo na última eleição.

Explica-se: ao insistir na sua candidatura apesar de todas as sinalizações em contrários emitidas por agentes da Justiça, o candidato Divino Lemes conseguiu levar para o tapetão a decisão final sobre a validade ou não de sua pretensão – algo que o STE tem até o dia 19 de dezembro para emitir o juízo final. E o quê pode acontecer? Ou o STE endossa decisão recente do TRE, que por sete votos a zero torpedeou o recurso de Divino Lemes; ou dá uma histórica reviravolta no caso e decide que sim, apesar de todas as evidências em contrário, ele terá condições de assumir o Executivo Municipal. Divino Lemes estaria errado em lutar até a última bala? De forma alguma. Dentro das regras democráticas, qualquer um tem o direito líquido e certo de ir até as últimas instâncias.

No primeiro caso, entra em ação o nosso tsunamizinho caboclo, aquele que não será motivo de condolências do outro lado do Atlântico, mas reúne capacidade de provocar estragos em todos os quadrantes da vida pública em Senador Canedo. Afinal, o fato inusitado é este: pela primeira vez em sua história recente de independência administrativa o município ficará num futuro imediato à deriva em se tratando de prefeito legitimamente eleito nas urnas.

Mas como?, pode perguntar o eleitor menos atento. Simples: nesse caso quem irá assumir interinamente a Prefeitura Municipal será ninguém menos do que o futuro presidente da Câmara de Vereadores. Quem é ele? Não sabemos. Nem os futuros vereadores que tomarão posse em janeiro sabem. E por quanto tempo isso vai acontecer? Até que o TRE organize nova eleição. Talvez em março; talvez abril; sabe-se lá.
Rodrigo Rosa e Reinaldo Alves são nomes cotados para assumir a presidência da Câmara,
Além deles estão na briga Betim e Eliel José
E qual o drama disso tudo? É que a cidade será entregue a alguém que em momento algum se preparou para uma eventualidade dessa natureza; e o tempo será mínimo para a adoção de medidas que comecem a trazer respostas positivas aos anseios da população. Pior: o desfilar de números indica claramente que, num município de 120 mil habitantes e 65 mil eleitores, o prefeito será indicado por...13 vereadores.

Nesse caso, o que se vai exigir do futuro prefeito-tampão? Em primeiro lugar, que seja extremamente provido de bom senso. Não é segredo para ninguém que deverá nadar num revolto mar de reivindicações das diferentes forças políticas que atuam no município. Como fiel da balança, o futuro gestor deverá compor seu secretariado dosando com sabedoria as interferências externas e buscando os melhores nomes para cada cargo ou função. Seus primeiros movimentos certamente emitirão um sinal claro do Norte que será perseguido.

De qualquer forma, mais uma benesse estará sendo oferecida em bandeja de prata ao futuro mandatário: a depender de sua performance, de seu compromisso real com o canedense, das decisões certas a serem tomadas, o escolhido reunirá todas as condições de pavimentar a própria candidatura a prefeito na eleição vindoura. Pode até ser que, em janeiro, essa ilustre figura hoje desconhecida sinta-se com o ego à flor da pele. Orgulho e vaidade raramente se ausentam nessas ocasiões. Mas não poderá se esquecer, em momento algum, que além de representar o fiel da balança estará também caminhando sobre o fio da navalha.

Artigo por Antônio Spada

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