Várzea Grande: Sem dinheiro para pagar ônibus, gari pedala 11 Km para se formar em direito


Na estrada da vida, a gari de Várzea Grande, Mato Grosso, Ketlly Cristina da Silva, 25 anos, pedalou muito para concluir, no dia 9 de agosto de 2021, o curso de direito na Universidade de Cuiabá, instituição privada de ensino superior localizada na capital do Estado

A falta de dinheiro para a passagem do ônibus para ir e voltar da faculdade não foi barreira para frear o sonho de se formar. Com a mochila pesada de determinação e de livros, mas vazia de grana, a estudante optou por usar a bicicleta para completar, dia após dia, o trajeto de 5,5KM da cidade onde mora até a capital Cuiabá e assistir às aulas.

"Eu trabalhava durante o dia desempenhando a minha função de gari na empresa pública de limpeza urbana da minha cidade e, à noite, ia à faculdade, Como não tinha dinheiro para pagar o ônibus, ia de bicicleta mesmo. A longa jornada não terminava quando eu chegava em minha casa, porque tinha que estudar e fazer os trabalhos que os professores passavam", conta Kettly Cristina da Silva, que antes de passar no concurso do município para gari trabalhava como vigia de uma escola durante as manhãs. À tarde, ela vendia cremosinho, refresco feito com leite e iogurte natural, nas ruas da cidade.

Para a bacharel em direito, Ketlly da Silva, não faltam oportunidades para quem quer estudar. "Na minha opinião, o que falta é apoio financeiro do governo aos universitários de baixa renda matriculados em instituições particulares como, por exemplo, os bolsistas e os que têm origem no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, o FIES", destaca. Com os olhos brilhando, Ketlly aconselha os que querem avançar na esteira da educação em busca do sonho: "Se você tem a oportunidade, corra atrás dos seus sonhos, se não tem, o que você pode passar a fazer para ter essa oportunidade? Busque, pergunte, pesquise e com a fé e determinação você realizará o seu objetivo", incentiva Ketlly.

As barreiras sempre existiram na vida de Ketlly. O diferencial é que ela não desistia dos seus ideais. Criada pela mãe solo Janete Aparecida Silva, o seu pai faleceu dentro do presídio quando ela tinha apenas três anos, Ketlly sempre gostou de estudar. "Desde criança tinha vontade de estudar, porém não tinha alguém para me ajudar com as tarefas levadas para casa, porque minha mãe era diarista e não tinha tempo ou muitas vezes não sabia me ensinar porque parou no 5º ano do ensino fundamental. Então eu tentava fazer sozinha, ainda que estivesse errada a tarefa", recorda.

A menina encontrava dificuldades desde alguém para auxiliar em casa até um caderno para levar para escola. Ketlly disse que a mãe Janete Aparecida da Silva e a tia Ana Lúcia da Silva Oliveira foram as suas grandes incentivadoras. "A tia Lúcia, inclusive, foi aprovada em dois concursos públicos, um que exigia o ensino fundamental e um outro de nível médio", conta com orgulho.

Primeira pessoa da família a completar o ensino superior, Katlly da Silva está focada na missão de passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, que será no dia 17 de outubro. Para isso, ela está estudando por conta própria. Outro objetivo dela é prestar concursos para o Ministério Público e para a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso. A torcida pelo sucesso começa dentro de casa. Afinal, o marido Jailson Mendes Moreira e o filho Isaque Mendes da Silva são torcedores e admiradores de Kettly.


Quanto ao sentimento de ter concluído o curso de ensino superior, ela conta que é algo maravilhoso. "Tive a oportunidade de receber diversos conhecimentos que mudou a minha forma de pensar, principalmente referente aos direitos e deveres das pessoas. Agora, posso ajudar com a minha carga de informações para que a pessoa trilhe o caminho correto e não abre mão do seu direito ou dever", frisa Ketlly.

Apesar de tantas dificuldades enfrentadas, em momento algum Kettly pensou em desistir do sonho. "Ao longo desses 5 anos , eu não pensava em desistir de um curso superior, porém diante de tantas dificuldades como ter sempre material atualizado, livros, Vade Mecum e tantos outros exigidos para o bom desempenho de estudante do curso de direito, eu cheguei a pensar em trocar de curso, porém pensei melhor e concluí que o direito poderia me oferecer futuramente a oportunidade de ajudar outras pessoas e até mesmo ser aprovada em um concurso público", explica.

Emocionada, ela não esquece também de registrar a gratidão que tem por um tio, Benedito Fernandes de Siqueira, que a ajudou nessa trajetória e pela amiga de faculdade Ivete Ferro Conca. "Em muitas ocasiões ela pagou lanche e palestras para mim, pois eu não tinha dinheiro", finaliza com a voz embargada pela emoção.


Assessoria de Imprensa Fernando Fraga



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