Nova técnica no tratamento do câncer colorretal é alternativa à bolsa de colostomia


Inca estima cerca de 44 mil novos casos de câncer colorretal, ou câncer de intestino, por ano no Brasil. Especialista esclarece as principais inovações no tratamento da doença


O câncer colorretal abrange tumores que acometem um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto. Trata-se do segundo tipo de neoplasia maligna (depois do câncer de pele não melanoma) mais comum no Brasil, tanto em homens quanto em mulheres, e a terceira maior causa de morte por câncer no País em 2020. Cerca de 42 mil novos casos são registrados por ano, de acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Estudos apontam que o risco de uma pessoa desenvolver esse tipo de câncer durante a vida é de aproximadamente 5%. “Cerca de dois terços dos tumores de intestino grosso se instalam no cólon, enquanto um terço tem origem no reto”, afirma o médico oncologista clínico do Centro de Oncologia IHG, Gabriel Felipe Santiago.

O especialista acrescenta, ainda, que a doença acomete de modo relativamente semelhante homens e mulheres, geralmente depois dos 65 anos de idade. “Mais de 90% dos casos ocorrem em indivíduos com mais de 50 anos. Entretanto, o câncer de intestino em jovens, isto é, em pessoas com menos de 50 anos, dobrou entre 1993 e 2013, o que tem despertado a atenção dos especialistas”, revela.

Obesidade e câncer colorretal

A obesidade é um importante fator de risco modificável para o câncer, ficando atrás apenas do tabagismo. Essa afirmação tem despertado a atenção de médicos da área de saúde. “A associação do sobrepeso e da obesidade com a incidência de câncer é estimada em 7,8%”, afirma Gabriel Santiago (foto).


Segundo o médico, o excesso de gordura corporal inflama de forma crônica o organismo e aumenta os níveis de hormônios que provocam o crescimento desordenado de células cancerígenas. “Daí o alerta no controle de peso, uma vez que a obesidade aumenta as chances de a pessoa desenvolver algum tipo de câncer”, argumenta o oncologista.

No Brasil, o Inca estima 704 mil novos casos da doença entre 2023 e 2025, com destaque para os tumores de mama, próstata, intestino e pulmão. De acordo com Gabriel Santiago, os tipos de câncer ligados a obesidade são tumores de mama (mulheres na pós-menopausa), endométrio, próstata e intestino (cólon e reto).

Sabe-se também que pacientes que experimentam aumento de peso após diagnóstico de câncer têm um risco aumentado de recidivas ou persistência da doença. Por outro lado, estudos que avaliaram fazer atividade física e perder peso, além de dietas adequadas durante e após a quimioterapia, levaram a uma melhor sobrevida livre de doença.

Março Azul Marinho

Em uma campanha de nível nacional, mobilizando entidades de especialidades, médicos, clínicas de todo Brasil e a população em geral, o mês de março foi escolhido para a conscientização e prevenção ao câncer de intestino (colorretal).

O objetivo da iniciativa é incentivar o diagnóstico precoce e o tratamento do câncer colorretal já nos primeiros estágios da doença por meio da prevenção primária e secundária. Gabriel Santiago aponta que este tipo de câncer, que atinge o intestino grosso e o reto, é um dos tumores malignos mais frequentes no mundo e um dos mais letais.

A descoberta do câncer colorretal em seu estágio inicial garante que o paciente tenha grandes chances de eliminar a doença. “O câncer de intestino é um dos poucos que pode ser rastreado e, quando detectado precocemente, tem sobrevida em cinco anos de 95%”, afirma.

De acordo com Gabriel Santiago, os hábitos alimentares são um dos responsáveis pelo aumento do câncer colorretal. “O consumo em excesso de carne vermelha, gordura animal, carnes processadas – como bacon, salsicha –, bebidas alcoólicas, tabagismo e o sedentarismo são hábitos que observamos como fator de risco no desenvolvimento da doença”, explica.

Sintomas e diagnóstico

O oncologista alerta para sintomas como perda de peso sem causa aparente, diarreia e prisão de ventre alternadas, sangue e muco nas fezes e irregularidades atípicas do intestino. Entretanto, esses são sintomas comuns em problemas como infecção intestinal, hemorroidas, intoxicação alimentar e fissura anal. “Por isso, se eles persistirem por mais de um mês, acompanhados ainda de anemia e massa abdominal, um gastroenterologista ou clínico geral devem ser consultados, principalmente se houver fatores de risco”, adverte Gabriel Santiago.

O diagnóstico pode ser feito por meio de exames como colonoscopia, em que um equipamento com câmera capta imagens do intestino; retossigmoidoscopia, onde apenas um segmento específico do intestino é visualizado; a colonografia ou colonoscopia virtual, em casos de alterações de coagulação ou dificuldade respiratória e que não é possível fazer a colonoscopia. “A presença de sangue oculto positiva em exame de fezes pode também ser um sinal da doença”, alerta o oncologista.

Tratamento

De acordo com Gabriel Santiago, o tratamento dependerá da localização e extensão do tumor, podendo envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia, em casos de metástase. A cirurgia é a opção mais viável no tratamento inicial, sendo importante realizar o acompanhamento médico para monitoramento de recidivas ou novos tumores. “Prestar atenção aos sinais que o corpo demonstra é crucial, evitando que os tumores malignos se espalhem para outros órgãos”, conta o especialista.

Existem também alternativas de quimioterapia pré ou pós-operatório; anticorpos monoclonais, que são drogas utilizadas em conjunto com a quimioterapia, para aumentar seu efeito no combate da doença avançada; e mais recentemente, a imunoterapia, sendo utilizada na doença avançada.

Fim da bolsa de colostomia

O câncer de reto constitui desafio no tratamento dos pacientes, uma vez que em muitos casos é necessário colocação de bolsa de colostomia definitiva. “Isso ocorre porque os tumores localizados no reto baixo precisam ser retirados com cirurgia”, afirma Gabriel Santiago.

Entretanto, uma nova técnica, denominada terapia neoadjuvante total (TNT) permite maiores taxas de preservação do reto de maneira que há redução na necessidade do uso de bolsa de colostomia definitiva. “O tratamento convencional consiste, muitas vezes, em aplicação de radioterapia e quimioterapia seguidas de cirurgia e de quimioterapia pós-operatório”, esclarece. “Com a nova técnica é utilizada a combinação de radioterapia e quimioterapia seguida de uma carga maior de quimioterapia. Dependendo do resultado é possível não realizar cirurgia para retirada do reto”, argumenta.

Desta forma, segundo Gabriel Santiago, há redução na necessidade de colocação de bolsa de colostomia, uma vez que essa nova estratégia promove maior redução do tamanho do tumor e muitas vezes eliminação do mesmo. “Chamada de resposta completa”, define, completando: “A nova técnica é inovadora e tem um grande impacto na vida do paciente, pois salva o reto e ainda livra da bolsa de colostomia”, acrescenta.

Essa nova estratégia, conforme relata o médico, já é autorizada pelos planos de saúde e também vem sendo adotada em muitos centros de tratamento oncológicas do Sistema Único de Saúde (SUS). “Desta forma é possível uma maior manutenção da qualidade de vida do paciente ao mesmo tempo em que há controle da doença, principalmente em se tratando de tumores do reto baixo”, enfatiza.

Com informações por Naiara Gonçalves
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