Parto sem sofrimento: Com conhecimento sobre mente e corpo é possível ter um parto dos sonhos


Psicóloga prepara mulheres para que a chegada do bebê seja uma experiência positiva e tranquila, sem medos e tabus

Muito provavelmente não existe assunto mais envolto em ansiedade, medos, tabus e mitos do que o tema parto, principalmente se for na modalidade normal. O temor em sentir dor, os riscos para a mãe e para o bebê, a demora, as consequências para a aparência física da mãe, o perigo do cordão umbilical enrolado, experiências traumáticas. São inúmeros os medos e receios listados pelas mulheres.

De acordo com uma ampla pesquisa, desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, aproximadamente uma em quatro mulheres no Brasil sofreu com algum tipo de violência durante o parto.

A denominação para os maus tratos, abusos e desrespeito sofrido por essas mulheres é a violência obstétrica. A conduta se dá quando o profissional de saúde, sem o consentimento da mulher, realiza práticas em desacordo com o estabelecido pela autoridade de saúde.

Apesar de existir um Projeto de Lei 190/23 que altera o Código Penal para tornar crime a conduta do profissional de saúde que ofende a integridade física ou psicológica da mulher durante as fases da gravidez (gestação, parto e pós-parto), com pena prevista, nesse caso, de 1 a 5 anos de reclusão e multa, conforme o texto em análise na Câmara dos Deputados, nenhuma mulher quer passar por essa experiência traumática, em uma situação em que acolhimento e respeito deveriam ser palavras de ordem.

Parto em casa

A psicóloga especialista em saúde materna e hipnoparto, Luciana Wovst, explica que o parto é um processo bastante desafiador e demanda maior preparo psicológico do que físico. Neste sentido, realizar o processo em casa pode ser uma opção para quem preza pelo conforto. Entretanto, a profissional ressalta que por existir vários mitos a respeito do assunto e sobre todo o desenvolvimento da gestação, é importante fazer o acompanhamento correto desde o início. “Durante toda a gestação é fundamental um bom acompanhamento emocional por meio do pré-natal psicológico. O psicólogo atua com a preparação mental para o parto utilizando de ferramentas como o relaxamento, a respiração profunda, a visualização positiva, e a auto hipnose. Isto favorece para um parto mais tranquilo, com menos intervenções e com um desfecho mais positivo”, exemplifica.

Um estudo realizado em 2020 pelas pesquisadoras da Universidade Metodista de São Paulo, Thaís Peloggia Cursino e Miria Benincasa, aponta que o número de partos realizados em casa tem crescido no Brasil, sobretudo nos grandes centros urbanos. A pesquisa, que revisou a produção bibliográfica nacional acerca do tema entre os anos de 2008 e 2018, apresenta que a insatisfação de gestantes com o modelo obstétrico vigente é o principal motivo pela opção parto em casa. Outro ponto é a constante busca por informações acerca do tema e o desejo de autonomia das mulheres grávidas sobre seus corpos em um momento que permeia, não só a gestação, mas também o nascimento.

Luciana aponta que o parto é um momento em que a mulher está muito sensível, e portanto, vulnerável a vivenciar consequências emocionais traumáticas, caso a qualidade desse momento não seja positiva.

Consequências da violência obstétrica “A experiência de parto negativa pode desencadear estresse pós-traumático”, afirma. Mulheres que sofrem violência obstétrica têm menos chance de sair da maternidade amamentando e de manter o aleitamento a longo prazo.

A revelação é de um estudo inédito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Entre aquelas que tiveram parto vaginal, o impacto é ainda maior e pode se prolongar por até seis meses. Os autores utilizaram dados do estudo Nascer no Brasil, que envolveu mais de 24 mil mulheres. A pesquisa já havia apontado que 44% sofreram algum tipo de violência obstétrica.

Os tipos de estresse pós-traumático podem ser primário e secundário. E segundo Luciana, os sintomas abrangem revivescência do trauma, com pensamentos ou memórias intrusivas, pesadelos, fuga ou entorpecimento emocional, a mãe pode não sentir mais afeto pela família, além de hiperexcitabilidade, onde a mãe passa a estar hipervigilante.

Luciana aponta que o transtorno do estresse pós-parto traumático acomete 9,4% das puérperas. “Existem também as violências veladas como impedir um acompanhante de livre escolha, dificultar a entrada do pai com preenchimento de burocracias, colocar a mulher numa situação de passividade e tendo que aceitar condutas sem opção de escolhas”, revela.


Luciana Wovst

Compartilhando experiências positivas

Mãe de dois filhos, Luciana optou por dar à luz em casa nas duas gestações, além de ter acompanhado inúmeras mulheres nesse período. Agora ela vai compartilhar a experiência em um workshop – Parto Sem Sofrimento – no dia 08 de julho, das 14h às 18h, no auditório do Hub Cerrado, (Rua do Parque, 361, Qd. 145, Lt. Área 3, Jardim Atlântico)
. O evento vai contar com a participação especial da equipe Renascer, referência em Parto Humanizado em Goiânia, com os enfermeiros Diego Vieira, Paula Ávila e Giovanna Faustino.

“A mulher que durante a gestação cuida de sua saúde emocional e se prepara para o parto, quando chega no processo de dar à luz se sente mais confiante, calma e segura para participar de todas as decisões junto a equipe. O que favorece para um parto mais tranquilo, com menos intervenções e com um desfecho mais positivo”, enfatiza Luciana.


Por Naiara Gonçalves / Foto: Divulgação Débora Silveira
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