Goiânia: Coletivo nacional chega com espetáculo sobre a Guerrilha do Araguaia


“Guerrilheiras ou para terra não há desaparecidos” estreia em Goiânia neste mês de agosto, no Teatro do Centro Cultural UFG, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura

Poema cênico; ficção histórica; docudrama sobre o Brasil profundo; antes de tudo, um trabalho teatral nascido da imersão de suas criadoras no cenário real de uma guerra brasileira. Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos chega finalmente a Goiânia, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura e com a parceria do Ministério da Cultura.

As apresentações acontecem nos dias 29 e 30 de agosto, 5ª e 6ª feira, 20h, com ingressos vendidos a preços populares: R$ 20,00 a inteira e R$ 10,00 a meia-entrada. O grupo também oferta uma oficina gratuita de 3 dias (26, 27 e 28/08, das 9h às 14h – CCUFG), dirigida a artistas goianos. A produção local é da F2 Produções.

Segundo Gabriela Carneiro da Cunha (atriz, escritora e roteirista, formada em Artes Cênicas pela Casa das Artes de Laranjeiras – CAL - – Rio de Janeiro), que idealizou o projeto precursor do espetáculo, este é um trabalho nascido de sua necessidade de se debruçar sobre questões do Brasil e ao mesmo tempo realizar um mergulho de profundidade em uma criação artística implicada nas contradições políticas e sociais do nosso país.

Ao pesquisar sobre a Ditadura Civil Militar do Brasil, sobre os desaparecidos daquele regime, Gabriela encontrou a história de 12 mulheres que lutaram e morreram na Guerrilha da Araguaia. A peça, dirigida por Georgette Fadel e com dramaturgia de Grace Passô, recupera os corações e espíritos revolucionários destas jovens, desaparecidas, que são transpostos para o palco.


Não de forma biográfica, mas poética e reflexiva, sobre o que aquelas meninas buscavam nos anos 60 e 70 que fez com que deixassem seus afazeres cotidianos para lutarem por ideais de uma nação com a qual sonhavam, empunhando armas e sofrendo todo tipo de violência e privação, em uma região inóspita do país.

Este é um espetáculo que desde setembro de 2015, quando estreou no ESPAÇO SESC Rio de Janeiro, inquieta e ressensibiliza a memória de plateias de todo o Brasil, evidenciando um triste episódio da história de nosso país, marcado por violência, mortes, desaparecimentos, distorções, encobrimentos e censura, e, sobretudo, por uma ruptura da história e da memória de um povo, enfraquecido em sua capacidade de lutar por um mundo melhor.

Vivendo a Guerrilha

Ocorrida entre os estados do Pará e Tocantins, na Floresta Amazônica, entre abril de 1972 e janeiro de 1975, a Guerrilha do Araguaia, um dos mais importantes e violentos conflitos armados da Ditadura brasileira, reuniu cerca de 70 pessoas, sendo 17 mulheres, que saíram de diversas cidades do país, para participar do movimento que pretendia derrubar a ditadura e tomar o poder cercando a cidade pelo campo.

Como parte de uma profunda e detalhada pesquisa sobre o tema, equipe e elenco da peça realizaram uma viagem até o Sul do Pará. A diretora, a autora e as atrizes Carolina Virguez, Daniela Carmona, Fernanda Haucke e Mafalda Pequenino (todas de diferentes estados brasileiros, assim como as guerrilheiras), puderam entender fisicamente as memórias do que estas pessoas viveram e deixaram naquela região.

Acontecimentos ainda vívidos nos depoimentos de camponeses, agricultores, moradores, que seguem sendo preteridos pelo Estado brasileiro, deixados à própria sorte e violentados em seus direitos básicos.


O cineasta Eryk Rocha documentou todo o percurso da equipe durante os 15 dias de viagem. Os registros audiovisuais, entre rostos e paisagens, são projetados no palco durante a apresentação do espetáculo, criando um diálogo com as atrizes. Além das imagens, os sons captados do rio acompanham algumas cenas, transportando o público para o local, levando o espectador a mergulhar na dramaticidade da história.

Segundo Gabriela Carneiro da Cunha (a idealizadora), “Mergulhar na guerrilha do Araguaia significa reconhecer o histórico das militâncias brasileiras, das lutas que constituem uma resistência às questões históricas de nosso país.”.

Sobre a atualidade do tema, a atriz ressalta: “Mas não se trata de uma luta de outro tempo, e sim de uma luta escancaradamente legível no Brasil atual, não só pelo fato de que suas testemunhas, camponeses do Sul do Pará, estão vivas e carregam essa história em suas costas e corações, ou porque as famílias dos guerrilheiros do Araguaia ainda lutam por seus desaparecidos, mas também pelo fato de que a mesma violência intransigente vivida ali ainda existe neste país de frágil democracia.”

Em breve as imagens se tornarão um documentário, sobre uma das guerrilheiras, ainda viva.

Desenterrando vestes e almas

Um dos elementos da peça que podem traduzir o envolvimento das criadoras e do elenco com a história da Guerrilha são os figurinos criados por Desirée Bastos. Em um artigo publicado na revista Questão de Crítica – Revista Eletrônica de críticas e estudos teatrais, a criadora das peças de vestuário que compõem o espetáculo fala sobre o ato de enterrar as roupas, para que fossem manchadas pela terra e pelo sangue do campo de guerra.

Segundo a figurinista, “O ato de enterrar/desenterrar as roupas não só traria a ideia simbólica de resgate desses corpos desaparecidos na terra como também a possibilidade de fazer emergir dela o etéreo, o fantasma e o impalpável. Neste experimento, a roupa/figurino funcionaria como um suporte para reinventar a realidade humana à medida que a terra dilataria sua existência na arte.”

Sobre a demora deste tipo de processo, Desiréé comenta: “Esse trabalho têxtil poderia ter sido desenvolvido de maneira teatral: não precisamos submeter os materiais a ações reais do tempo, já que é possível usar técnicas manuais para chegar a um resultado que pareça real ao espectador. Além disso, em termos de ordem prática, o apodrecimento natural dos tecidos deixa todo o material envolvido num limite de resistência que, em contato com o corpo do ator, pode se rasgar e se destruir por completo. Sendo assim, por que eu optaria por um processo tão radical na construção dos figurinos? Por que expor o resultado desse processo ao acaso? Por que não?”

Ficha Técnica

Idealização: Gabriela Carneiro da Cunha -
Direção: Georgette Fadel
Figurinos: Desirée Bastos
Dramaturgia: Grace Passô
Elenco Gyn: Gabriela Carneiro da Cunha, Sara Antunes, Mafalda Pequenino, Vandiléia Foro, Luciana Froes e Daniela Carmona

Sobre Gabriela Carneiro da Cunha (a idealizadora)

Formada em artes cênicas pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro. Atuou nos longas: O Velho Marinheiro, com direção de Marcos Jorge; Encantados, com direção de Tizuka Yamasaki; Jards, de Eryk Rocha; além dos curtas: Ao Meio, dirigido por Vitor Leite; Laura Denver, com direção de Antonia Catan e João Marcelo. Como roteirista, escreveu os curtas Se Não Fosse a Brisa e O Menino que Via Devagar. Atuou em Passione, Morde & Assopra e Em Família, da Rede Globo. Em 2013 protagonizou a série Beleza S/A, da GNT. No teatro, atuou em: Depois da Queda; O Campo; Tentativas contra a Vida Dela; Rock n’Roll (direções de Felipe Vidal); A Casa; Câmera; Passagens; Maratona (Pangeia Cia. Teatral); Às Vezes É Preciso um Punhal para Atravessar o Caminho (direção de Ivan Sugahara); Todo o Tempo do Mundo; Sacrifício de Andrei (dirigidos por Celina Sodré); Lili – uma História de Circo (direção de Isaac Bernart); Simbora – o Musical, sobre a vida e a obra do cantor Wilson Simonal.

Serviço:
Guerrilheiras ou para terra não há desaparecidos
Data e horário: 29 e 30 de agosto – 5ª e 6ª feira – 20h
Local: Teatro Centro Cultural UFG (Av. Universitária, 1533, St. Universitário)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).

Por Ana Paula Mota - Produtora Cultural e Assessora de Imprensa - 62 9 9941-5464
Fotos: Elisa Mendes
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Post: Lucieni Soares

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