Caminhos de fé e de morte


Na Espanha, o Caminho de Santiago de Compostela reúne peregrinos de toda a Europa em um exercício de fé e muito desprendimento de suor durante os 700 quilômetros de percurso. Em São Paulo, três rotas partindo de diferentes cidades do interior conduzem fiéis à Basílica de Aparecida do Norte – quase todos, evidentemente, caminhando com seus cajados para homenagear a padroeira do Brasil. Já no País inteiro existem outras centenas de caminhos que, a despeito de boas pistas (descontemos aqui as esburacadas e quase intransitáveis) e invejáveis cenários de destino, abrem os portais do inferno para todos aqueles que têm a má sorte de encontrar pela frente psicopatas, bêbados e irresponsáveis ao volante.

E como todo ano acontece, tais como os grandes eventos, temos também o balanço do horror praticado nas rodovias brasileiras durante os chamados feriadões. E haja mortes, choro e ranger de dentes. No recente feriado de 12 de outubro, nada menos do que 84 mortes (três em Goiás) e centenas de feridos (exatos 1.122) pintaram mais uma vez de vermelho-sangue as estatísticas. No total foram 1.200 acidentes e 45.900 irregularidades cometidas, sendo flagrados 887 bêbados ao volante. Bastaria ao leitor se encontrar com apenas um deles em condições desfavoráveis, e sua família inteira poderia ser dizimada.

Ao anunciar o resultado do descalabro, ano após ano, o chefe de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal em Goiás, Newton Moraes, outra vez elencou as infrações que mais matam: imprudência e velocidade abusiva. É verdade. Flagrantes de imprudência marcaram o feriadão nas estradas de todo o País – muitos deles captados por câmeras de TV.

Ultrapassagens proibidas foram 4.060, e o excesso de velocidade produziu apenas em Goiás 2.818 multas (média de 56 a cada hora, quase uma por minuto). Houve flagrante de carro a 146 km/hora em trecho onde a velocidade permitida é de 110 km/hora. Sem contar os que não foram detectados. Alcoolizados? Equipes de TV registraram pelo menos três casos, sendo que em um deles a PRF recolheu litros de uísque e vodka que estavam sendo consumidos a bordo. No total foram realizados 1.410 testes de embriaguez, e, como todo mundo sabe, onde há fumaça há fogo. Com perdão do trocadilho. Ah, teve também motorista detido sem habilitação e até um aloprado com CNH falsa, adquirida de um contraventor na internet. É o fim da picada. >


> Muito bem, o que se pode depreender disso tudo? Simplesmente que a vida ainda está muito mansa para os irresponsáveis e contraventores. Apesar de os valores das multas terem sido re-estabelecidos em 2016, parece que ainda são muito baixos para quem acha que vale a pena correr o risco – ou acredita na hipótese da impunidade.

E realmente são valores modestos para os insensatos que jogam com a própria vida e a dos outros. Segundo as regras em vigor as multas podem chegar a R$ 2.934,70 em casos de embriaguez, forçar ultrapassagens ou executar manobras perigosas. Excesso de velocidade? Meros R$ 880,41. Como multa não é imposto, e portanto não aplicada a todos indistintamente, esses valores poderiam ser repensados e multiplicados por duas ou três vezes. Talvez com uma multinha de R$ 5.869,40 ou R$ 8.804,10, o que já abriria um buraco no bolso de qualquer um, os infratores contumazes pensariam duas vezes antes de acionar a chave de ignição.

E mais: cadeia pra valer para quem bebe e mutila ou assassina pessoas inocentes. Afinal, qual é a diferença entre um maluco que sai dando tiros a esmo pelas ruas e o sujeito que transforma o veículo em uma arma potencialmente letal? Certo, educação é importante, prevenção idem mas a coisa está chegando a um ponto em que urge a adoção de medidas drásticas para conter o avanço da barbárie.

O que é preciso, urgentemente, é aplicar freios ABS nesse tipo de pessoas que estão pouco se lixando para códigos de conduta, e que tem na satisfação do ego a qualquer preço seu objetivo de vida. Se, por exemplo, uma alma infeliz quer beber até perder os sentidos, isso é uma escolha pessoal e ninguém tem nada a ver com isso - desde que cometa essa impropriedade em sua casa ou mesmo numa cadeira de boteco. Beba até cair, mas mantenha distância dos comandos de um veículo. Porque nós, suas potenciais vítimas, queremos ter o direito de ir e vir sem cruzar seu malfadado caminho.

*Luciana Gomes, que no dia 11 deste mês foi morta quando retornava do trabalho por um motorista embriagado e que trafegava em alta velocidade nas imediações do Buriti Shopping, certamente apoiaria esta tese. A batida foi tão forte que sua moto foi lançada a 80 metros do ponto de impacto. Ela estava com sua moto parada, esperando o sinal abrir.

Por Antônio Spada
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