O câncer não espera


Especialistas afirmam que adiar consulta e interromper tratamento do câncer devido a pandemia podem ser o prenúncio de uma nova epidemia

A cada ano no Brasil, cerca de 700 mil pessoas recebem o diagnóstico de câncer e 225 mil morrem por conta da doença. Em situações normais, o País possui uma alta taxa de diagnóstico tardio. Agora, com a pandemia, tudo indica que o problema vai aumentar. É o que aponta uma pesquisa do Instituto Oncoguia, com o apoio da Roche, que divulgou novos dados do Radar do Câncer. Os números trazem os impactos da pandemia da Covid-19 em relação aos cuidados com a saúde que a população teve no último ano (2020-2021). 

Um dos principais procedimentos para o diagnóstico do câncer, as biópsias, tiveram uma redução de 39,11%, quando comparados os meses de março a dezembro de 2019 e 2020. Em 2019 foram realizados 737.804 desses procedimentos e, em 2020, um total de 449.275.

O médico urologista, uro-oncologista e cirurgião robótico, André Luiz Nogueira, faz um alerta: “É possível termos nos próximos anos um avanço considerável de câncer, especificamente, de próstata. Uma nova epidemia, mas desta vez de câncer. Isso porque os pacientes não têm realizado os exames preventivos por receio de contrair o coronavírus”.

André Luiz Nogueira

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. A estimativa do instituto para novos casos é de 65.840 (2020-2022), ou seja, risco de 65,84 casos novos a cada 100 mil homens. Em 2019 foram 15.983, conforme o Atlas de Mortalidade por Câncer.

Enquanto a vacinação segue lenta e coloca a população em estado de ansiedade e de medo, o combate a outras doenças, que no passado já preocupavam a população, caminha quase parado. Conforme explica o oncologista clínico, Gabriel Felipe Santiago, o diagnóstico do câncer de próstata é simples, realizado por meio de dois exames preventivos: o toque retal e o PSA (antígeno prostático específico). “No entanto, assim como as biópsias, houve uma queda acentuada de procura por consultas e realização de exames preventivos para câncer de próstata”, aponta. O Radar do Câncer mostra que, em 2019, cerca de 6 milhões de exames PSA foram realizados. Já em 2020, houve uma redução de quase 30%, sendo 4,4 milhões de exames realizados.

Gabriel Felipe Santiago

O fato é tão preocupante que André Nogueira relata o caso de um paciente que, devido a pandemia, esperou um ano para se consultar e fazer a avaliação da próstata. “Quando recebemos o resultado do exame, o paciente apresentou suspeita de câncer em estágio avançado”, conta. A pandemia tem sido um problema para a sociedade, não há dúvidas. Mas o câncer não espera a pandemia passar. “É importante fazer uma avaliação da saúde, mesmo neste momento, principalmente, no rastreio do câncer de próstata”, explica.

Gabriel Santiago também faz o alerta de que cada vez mais tem aparecido nos consultórios pacientes com câncer avançado e metastático. “A queda de exames e diagnósticos para o câncer causará um grande impacto ao sistema de saúde. Com mais casos avançados, o custo do tratamento é maior e as chances de cura diminuem consideravelmente”, ressalta.

Sob o ponto de vista dos especialistas, a prevenção é o melhor tratamento, pois possibilita o diagnóstico precoce e evita o agravamento da doença. Ao receber o diagnóstico positivo, o tratamento pode variar conforme o estágio. Entre as opções de tratamento estão a cirurgia (laparoscópica e robótica) e/ou a radioterapia. Casos mais graves podem demandar internação hospitalar, seguido de bloqueadores hormonais e quimioterapia. Via Naiara Gonçalves
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