Professora aponta novas formas para aumentar interesse e aprendizado em matemática


Estudo realizado pelo instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), divulgado recentemente, mostra que estudantes estão com nível baixo de aprendizado em matemática. Com base nos dados do Sistema de Avaliação Básica (Saeb), de 2021, a pesquisa apresenta cenário preocupante

O índice de estudantes, no ensino médio, que estão com o aprendizado dentro do esperado para matemática é de apenas 5%. Para a professora Márcia Queiroz, fundadora da Casa da Matemática do Rio de Janeiro, a sondagem revela uma realidade que os professores vivenciam todos os dias.

Segundo a professora Márcia Queiroz, uma das razões para este resultado, além dos efeitos reais da pandemia, é a forma como a matemática é ensinada. "Ninguém nasce achando matemática chata ou que é uma matéria só para gênios. Aliás, ninguém nasce achando algo rsrs", brinca Márcia Queiroz. A professora completa: "ao longo da trajetória estudantil cabe à instituição de ensino, aos professores e aos familiares alimentarem ou matarem o dito bicho-papão. A responsabilidade é de todos", afirma Márcia. Ela destaca também a questão do ensino na formação dos professores que ensinam matemática. "As Universidades ainda estão muito distantes da realidade das escolas de educação básica. Ainda que menor, existe um abismo", avalia.

"O Impa - Instituto de Matemática Pura e Aplicada tem feito um trabalho importante de fomento ao estudo da componente curricular de forma prazerosa, lúdica, através de projetos como o Festival Nacional da Matemática em sua segunda edição, 2017 e 2022, nas quais tive a honra de ter os trabalhos submetidos aprovados. Em 2017, com o projeto 'Simetria: Matemática Com Muita Arte'. Em 2022, com o projeto 'Casa da Matemática Itinerante'", conta a professora Queiroz. Ela levanta uma questão importante e que está relacionada ao aprendizado da língua portuguesa. Dados do estudo do Saeb apontam que a matéria está longe de alcançar o ideal.

De acordo com a professora Márcia Queiroz, o fato do baixo rendimento em matemática é sempre notícia, mas, ela destaca que o desempenho ruim em português compromete o aprendizado da disciplina. "Precisamos prestar atenção, porque é fácil colocar a matemática como a vilã, mas há muitos estudantes analfabetos funcionais, que são aqueles que reconhecem as letras e os números, porém não compreendem textos e não conseguem realizar operações matemáticas -. Uma triste realidade que comprometerá o desenvolvimento da sociedade brasileira. Então, como interpretar matemática sem o domínio da língua portuguesa?", questiona Queiroz.

"A Matemática, quando a compreendemos bem, possui não somente a verdade, mas também a suprema beleza". (Bertrand Russel)

Ela vai além na análise do problema. "Desde que o mundo é mundo, todos sabem o que deve ser feito, mas nem todos sabem como fazer. Por que não se pensam políticas públicas dentro das realidades regionais do nosso país que perpassam pela valorização dos docentes, cuidados com o espaço físico escolar, um ambiente planejado facilita o aprendizado, implementação de laboratórios de matemática. Eu defendo há muito tempo, porque, afinal, o estudo da matemática deve ser visual, tátil, significativo, prazeroso. Defendo também que os professores tenham uma formação continuada, que é o aprimoramento do conteúdo que tiveram na graduação. Há muitos professores que estão fazendo bonito ensinando com metodologias ativas e afetivas", afirma Márcia.

Um caso prático do empoderamento educacional, através do ensino público, é do morador da favela do Timbó, em João Pessoa (PB), Leonardo Lima, 19 anos. Ele é um dos multimedalhistas da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), com seis medalhas de ouro e uma de bronze. As premiações foram conquistadas em sete edições da olimpíada, da qual começou a participar no sexto ano do Ensino Fundamental. Leonardo conta que teve a vida influenciada pela OBMEP. Atualmente, com o símbolo da olimpíada tatuado no braço, ele cursa licenciatura de Matemática na UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

"Eu me emociono com casos como o do jovem Leonardo Lima. Ele é fruto do ensino público feito com empenho e qualidade. É sobre isso que eu falo sempre: se deixarem a escola pública chegar, a gente domina tudo e contribui efetivamente para a construção de uma sociedade melhor", afirma, emocionada, Márcia Queiroz, que é aposentada recentemente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro.

Para Márcia, os professores precisam sair dos muros das escolas. "Se a escola não tem laboratório de matemática, coloque em ação a aula-passeio. É um momento para vivenciar, descobrir, redescobrir, sentir novas sensações que podem despertar novos interesses e novas curiosidades nos estudantes. A aula-passeio sempre foi e deve continuar a ser realizada em espaços de ciências e de cultura geral. Essa iniciativa desperta nos estudantes a cooperação e o prazer pelo conhecimento. Precisamos fomentar essa metodologia, porque o aluno vai ter um novo olhar sobre a matemática, que ele só vê no quadro. Desde 1996 eu defendo e pratico a aula-passeio", destaca Márcia Queiroz.

A beleza da matemática só se revela a quem a persegue mais pacientemente”. (Maryam Mirzakhani)

A Casa da Matemática é uma opção para praticar a aula-passeio em 2023. O ambiente oferece exposições, oficinas, palestras. "Aqui, na Casa da Matemática, os estudantes são protagonistas, investigadores, cientistas. Eles contam com recursos que os levam a gostar de estudar matemática, porque despertamos neles habilidades, trabalhamos a interdisciplinaridade - arte (música, teatro, dança) - o encontro da geometria com a arte de Escher, Leonardo da Vinci, por exemplo, fascina o estudante. Com a metodologia que desenvolvo desde 1996, a nossa equipe instrumentaliza o estudante a participar das relações sociais diversificadas e cada vez mais amplas, porque a matemática está em toda parte, ajuda a interpretar o mundo, ajuda na tomada de decisões, no exercício da cidadania. Aqui o estudante aprende com o passado, vive o presente e se prepara para o futuro", argumenta Márcia Queiroz.

Torre de Hanói


Um exemplo prático da metodologia da professora Márcia Queiroz aplicada em sala de aula é a Torre de Hanói. Segundo ela, o recurso é uma ferramenta lúdica para o ensino de conceitos matemáticos, oferecendo ao aluno o desenvolvimento da memória para o trabalho. "A Torre de Hanói vai além de ser um jogo de quebra-cabeça. Com ela, ensinamos contagem, comparação, potenciação, valor numérico e função exponencial, por exemplo. Podemos utilizá-la a partir das séries iniciais do ensino fundamental, porque atua também na coordenação motora da criança, ajuda na identificação de cores, noção de ordem crescente e decrescente. Em todos os níveis escolares, a Torre de Hanói trabalha o desenvolvimento cognitivo", destaca a professora.

O que é Torre de Hanói?

É um quebra-cabeça que consiste em uma base contendo três pinos, em um dos quais são dispostos alguns discos uns sobre os outros, em ordem crescente de diâmetro, de cima para baixo. O problema consiste em passar todos os discos de um pino para o outro qualquer, usando um dos pinos como auxiliar, de maneira que um disco maior nunca fique em cima de outro menor em nenhuma situação. O número de discos pode variar sendo que o mais simples contém apenas três. É importante destacar que só pode movimentar uma peça por vez. É importante frisar que a Torre de Hanói tem atuado também como um procedimento para planejamento e solução de problemas.



Para finalizar, a professora Márcia Queiroz diz que é preciso pensar a matemática fora da caixa, observando os padrões nas artes, na natureza, aprendendo, jogando e brincando e observando a contribuição da matemática na evolução da humanidade, no tratamento de doenças, na pesquisa das vacinas, na modelagem, na impressão 3D. "Sorria para a matemática. A vida vai sorrir de volta para você", lembra Márcia do slogan do Festival Nacional da Matemática de 2017.


Assessoria de Imprensa Fernando Fraga
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